Filtrar por

  • até

O Placar da Copa

cityname-destaques

por Clemente Ganz Lúcio

Para sediar a Copa do Mundo, o Brasil enfrentou uma onda interna que questionou a decisão de recepcionar o evento e outra que procurou desqualificar a atuação do setor público na preparação das condições necessárias para realiza-lo. Parte da mídia jogou as fichas na “seleção canarinho”, símbolo nacional controlado pela entidade privada denominada CBF. O bordão “Imagine na Copa” perdeu! Passadas algumas semanas, cabe olhar os resultados e pensar nos legados a serem trabalhados¹.

Foram 32 dias de eventos e festas, nos quais o Brasil recebeu mais de 1 milhão de turistas estrangeiros de 202 países, que gastaram em média 3 US$ mil cada um e visitaram 378 municípios. As pesquisas apontaram que 95% dos entrevistados pretendem voltar e 61% nunca tinham vindo ao Brasil. Os turistas brasileiros, mais de 3 milhões, circularam por todo o país. Nos estádios, foram 3,43 milhões de torcedores e nas Fan Fests, 5,1 milhões de pessoas. Trabalharam no evento mais de 22 mil voluntários, 20 mil profissionais de comunicação e 177 mil profissionais de segurança.

Usaram os aeroportos brasileiros 16,7 milhões de pessoas e, num único dia, foi batido recorde, com 548 mil pessoas transportadas. Os aeroportos operaram 253 mil pousos e decolagens (5 por minuto), com índice de pontualidade de 92,54%, quando o padrão europeu é de 92,4%.

Os investimentos geraram aumento de 52% na capacidade dos aeroportos, saltando para mais 67 milhões de passageiros/ano, 350 mil m² de área nos terminais, 54 novas pontes de embarque, 1,4 mi m² de pátios para aeronaves e 10 mil vagas para automóveis.

Foram construídos 131 km de corredores de ônibus e BRTs, 48 km de novas vias, quatro novos terminais portuários de passageiros e reformado um outro. Foram instaladas 15 mil novas antenas de 3G/4G nas cidades-sede.

Somente uma rede social totalizou mais de 3 bilhões de interações durante o evento. Dos estádios foram realizadas 4,4 milhões de ligações telefônicas. Não ocorreram erros de transmissão pela rede Telebrás nas 517 horas de áudio e vídeo.

Na rede básica de energia foram 54 novas subestações e 12 linhas de transmissão. Ao todo são mais de 150 obras, a maioria concluída e poucas em processo de conclusão.

Proporcionou-se segurança a 50 chefes de Estado em 2.510 operações de escolta. Foram detidos 271 cambistas e desbaratada uma quadrilha internacional que fraudava ingresso há algumas edições de Copas do Mundo.

Há três legados do evento que o país deveria atuar para manter e ampliar:

  1. apesar das dificuldades históricas para construir e concluir obras públicas, foi organizado para a Copa um regime especial que proporcionou que mais de 150 grandes obras fossem construídas ao mesmo tempo, a grande maioria se consolidando como bem público para servir no cotidiano a comunidade. Demonstrou-se que é possível fazer e que o Estado tem competência e eficiência;
  2. foi produzido um nível de interação entre o setor púbico e o privado bastante razoável, com ações complexas. É possível aproveitar esse exemplo para aperfeiçoar essa relação em muitos campos de interesse do país;
  3. houve interação e coordenação entre todas as polícias (militar, civil, bombeiros, polícia federal, entre outros), proporcionando efetivo e eficaz modelo de atuação, com bons resultados.

Esses legados precisam se tornar permanentes e inesquecíveis para a realização dos investimentos e das políticas públicas no Brasil.

1- Os dados que seguem foram apresentados em uma reunião do Grupo de Trabalho Eventos Esportivos do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social)

Clemente Ganz Lúcio , Sociólogo, diretor técnico do DIEESE (Deparamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), membro do CDES.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *