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Após saída da Aldeia Maracanã, grupos de indígenas tem destinos diferentes

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“Entre alguma coisa e nada, optamos por alguma coisa”, disse Guarapirá Pataxó, que viveu da Aldeia Maracanã desde 2006, foi um dos que aceitou a proposta para viver na Colônia Curupati, zona oeste do Rio de Janeiro. “

Uma semana após a reintegração de posse do antigo prédio do Museu do Índio e o enfrentamento entre policiais militares e manifestantes, os cerca de 40 indígenas que viviam na Aldeia Maracanã seguiram caminhos diferentes.

A parcela que aceitou a proposta do governo, seguiu para um abrigo provisório, em contêineres instalados no bairro de Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro. A outra parte continua tentando voltar para a Aldeia Maracanã e chegaram a ocupar pacificamente o atual Museu do Índio no último sábado (23/3) para conseguir uma audiência com a Fundação Nacional do Índio (FUNAI).

Distante da cidade
Durante o certo da Polícia Militar ao prédio do Antigo Museu do Índio, 13 índios de dez etnias diferentes concordaram com a proposta do governo estadual para escolher um novo lugar para morar e desenvolver suas atividades.

Eles foram para um antigo asilo em que pacientes com hanseníase eram mandados para ficar longe da sociedade, a Colônia Curupati.

O pataxó Garapirá, uma das lideranças do grupo e que viveu desde 2006 na Aldeia Maracanã, disse que a proposta de sair sem resistência do antigo Museu do Índio foi aceita por falta de garantias de que teriam uma oportunidade melhor se continuassem no prédio com os manifestantes e os outros indígenas, até a retirada compulsória.

“Entre alguma coisa e nada, optamos por alguma coisa. Temos um projeto de contar histórias em escolas e queremos continuar com isso”, disse o pataxó, que nasceu no sul da Bahia e morava no prédio abandonado desde outubro de 2006.

“Aqui é mais tranquilo e mais perto da natureza que nas outras opções. Tudo o que queremos agora é paz. Queremos trabalhar com ecoturismo e ajudar a reflorestar a região com mudas de pau-brasil, jacarandá e outras árvores nativas”, explicou Garapirá.

Apesar disso, a escolha pode se tornar um empecilho à venda de artesanato, uma das principais atividades econômicas do grupo, que está agora em um local afastado: “Vamos pedir ao governo que nos dê um espaço na Quinta da Boa Vista para podermos vender nosso artesanato. Vai ser melhor do que vender na rua, porque muitas vezes somos confundidos com camelôs e tomam nossas coisas”.

Garapirá conta que eles agora esperam trabalhar na construção da nova aldeia, que já recebeu o nome de Muca Mucau, que quer dizer “a união de todos os povos” na língua pataxó. Sobre o antigo Museu do Índio, ele: “Queremos que continue sendo um espaço dedicado à cultura indígena.”

Quanto à estrutura provisória montada pelo governo do estado em seis contêineres, o pataxó diz que não há problemas, apesar de uma chuva ter alagado a cozinha ontem, no início da primeira noite no abrigo: “Já consertaram tudo hoje”, mostra ele. O cômodo, com fogão, geladeira, pia e materiais levados pelos próprios índios é o único que não é fechado no teto, sendo coberto apenas pela tenda de lona que protege todos os contêineres do sol e da chuva.

Além da cozinha, dois quartos ficam em mais dois contêineres, cada um com três camas e beliche. Para driblar o calor da pouca ventilação, eles têm dois ventiladores em cada quarto. Garapirá disse que os índios pediram um novo quarto, com camas de casal, já que há três casais no grupo. Outros três contêineres são os banheiros: um para homens, um para mulheres, e um coletivo.

Na tarde desta quinta-feira (28/3) esse grupo de índios conseguiu ter acesso aos seus pertences que estavam guardados em um depósito desde a reintegração de posse na semana passada.

Protestos e audiência frustrada na justiça
Aqueles indígenas que não aceitaram ir para a Colônia Curupati continua lutando para retomar o terreno da antiga Aldeia Maracanã. Logo no dia seguinte à reintegração de posse, realizou um protesto junto com dezenas de apoiadores em frente ao atual Museu do Índio, no bairro de Botafogo, zona sul do Rio. Eles chegaram ocupar o local, onde passaram a noite de sábado para domingo, quando a polícia retirou os do local pacificamente.

Os índios reivindicavam uma reunião com a FUNAI. Conseguiram uma audiência com o juiz federal Wilson José Witzel no próprio domingo (24/3).

Durante a audiência um dos lideres dessa parte dos índios, Uratau Guajajara, declarou que não aceitou a proposta do governo estadual por duvidar das garantias oferecidas e acrescentou: “Nós não aceitamos por achar que um patrimônio imaterial [dos índios] possa ser trocado por dinheiro nenhum”. Guajajara ainda afirmou que os policiais não cumpriram os acordos para garantir uma reintegração de posse não violenta.

A audiência de conciliação , que durou praticamente o todo o domingo, terminou sem acordo Durante todo o dia de hoje (24), os índios foram ouvidos na sede da Justiça Federal no Rio de Janeiro. No começo da tarde, o juiz foi ao local que abrigou a Aldeia Maracanã com uma comissão de cinco índios, para vistoriar o prédio da Conab, que fica ao lado do prédio histórico antes ocupado pelos índios. Mas foi verificado que o local não oferece condições de abrigo.

O representante da Funai na reunião, Paulo Celso de Oliveira, ofereceu quatro dias em um hotel para os índios, que querem voltar para o antigo prédio do Museu do Índio e não aceitaram a oferta.

Na quarta-feira (27), um grupo de índios e manifestantes realizaram uma passeata no centro do Rio em favor da volta dos indígenas para o prédio nas proximidades do Estádio do Maracanã.

Histórico ligado aos índios
Construído há 147 anos, o prédio abrigou a sede do Serviço de Proteção ao Índio, antecessor da atual Fundação Nacional do Índio (Funai). De 1953 a 1977, ali funcionou o museu, criado pelo antropólogo Darcy Ribeiro, quando a instituição mudou para Botafogo.

Em 2006 o espaço abandonado foi ocupado por índios que o rebatizaram de Aldeia Maracanã. Os indígenas usavam o local como moradia, para produzir e vender artesanato.

Com a proposta de concessão do Estádio do Maracanã para a iniciativa privada, o governo estadual começou a pressionar para a desocupação do prédio.

As lideranças dos índios que moram na Aldeia Maracanã defendem que o tombamento do prédio garanta a destinação do local para a cultura indígena. Mas o Governador Sérgio Cabral quer destinar o espaço para a criação do museu olímpico brasileiro.

Com informações da Agência Brasil

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