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Quatro estádios da Copa recebem serviço de narração para cegos

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Em quatro estádios, os torcedores com deficiência visual podem acompanhar em detalhes tudo o que está ocorrendo no campo e nas arquibancadas. Está sendo testado o serviço de narração audiodescritiva dos jogos durante o Mundial nos estádios Maracanã (Rio de Janeiro), Arena Corinthians (São Paulo), Mané Garrincha (Brasília) e Mineirão (Belo Horizonte). Duplas de voluntários narram para esses torcedores cada partida de um jeito diferente, descrevendo detalhes como linguagem corporal, expressões faciais e uniformes dos jogadores e brincadeiras das torcidas.

A ação é uma iniciativa da FIFA com o suporte de uma metodologia desenvolvida pelo Centro de Acesso ao Futebol na Europa (CAFE). Já a coordenação dos trabalhos Brasil, ficou sob responsabilidade do Urece Esporte e Cultura, uma ong com sede no Rio de Janeiro que desenvolve ações ligados à prática esportiva para pessoas com deficiência visual. Essa organização compõe o comitê local do projeto Jogos Limpos no Rio de Janeiro.

Gabriel Mayr, da Urece, explica como é o processo da narração audiodescritiva. “Misturamos uma narração de um jogo com as técnicas de audiodescrição que são usadas em filmes e espetáculos teatrais para contextualizar as ações para os deficientes visuais”.

Ao todo 16 pessoas atuaram como narradores. Uma questão interessante é que metade dos voluntários são mulheres. “Estamos recebendo muitas avaliações positivas das pessoas que gostaram de ouvir um jogo narrado por uma voz feminina, algo que é muito raro no Brasil”, comenta.

Quem quiser ouvir essa narração audiodescritiva deve levar para o estádio um aparelho receptor FM, rádio portátil ou celular, e os fones de ouvido. O serviço está disponível durante os jogos nas frequências 103,3 FM em Belo Horizonte, 98,3 FM em Brasília, 88,9 FM no Rio de Janeiro e 88,7 FM em São Paulo.

Durante todo o Mundial, 26 jogos terão o serviço da narração audiodescritiva, todos disputados os disputados nas cidades de Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. “Claro que não é o ideal”, afirma Mayr. A primeira proposta da FIFA previa apenas a transmissão dos jogos das semifinais e das finais, que serão realizados exatamente nessas cidades.

Mayr está confiante de que será possível ampliar esse tipo de serviço após a Copa de 2014, “vamos treinar mais pessoas nessa técnica”, comenta, e já faz até planos de garantir a narração especial para cegos em jogos do campeonato brasileiro.

O representante da Urece explica que eles receberam de doação da FIFA um equipamento de transmissão de FM de baixa potência, que atinge uma área pouco mais do que a dos estádios. Dessa maneira, os deficientes visuais podem estar em qualquer local da arena, não há interferência em outras transmissões e, como a antena fica no próprio estádio, o atraso entre a narração e a recepção é muito pequeno.

“O problema será quando tivermos transmitindo muitos jogos, como todos as partidas da primeira e segunda divisão do campeonato brasileiro. Para cada um vamos precisar de uma autorização específica, que demandará um grande volume de trabalho”, já prevê Mayr.

Experiência nova
Milton dos Santos Peres, que não enxerga desde que nasceu, só foi uma vez a um estádio de futebol, quando tinha 18 anos. “Deficiente visual vai ao estádio fazer o quê? ”, diz. Agora, com 43 anos, voltou para ver um jogo da Copa do Mundo com o sistema de audiodescrição, no Estádio Nacional de Brasília – Mané Garrincha, para assistir à disputa entre Colômbia e Costa do Marfim, que ocorreu no dia 19. Para ele, as narrações tradicionais de emissoras de rádio durante as partidas de futebol são muito superficiais e insuficientes para as pessoas com deficiência visual compreendam o que está ocorrendo.

“A narração é feita para pessoas que enxergam, não dá muitos detalhes. Na audiodescrição, há detalhes mais específicos, como sinais, gestos, quando o juiz levanta a bandeira, quando alguém cai”, explica Peres, que é diretor de comunicação da Associação Brasiliense de Deficientes Visuais, costuma assistir a filmes com audiodescrição no cinema e em casa, e diz que o sistema ajuda muito a compreender as paisagens e os gestos das histórias.

É possível aproveitar a Copa para trazer soluções?
A atuação da Urece junto ao projeto Jogos Limpos e a Rede do Esporte pela Mudança Social (Rems), para Mayr, ajudou a decidir como agir em relação à Copa 2014. “As discussões nesses espaços apontavam em como poderíamos usar os megaeventos para buscar soluções para o Brasil”, avalia.

Para ele, no projeto Jogos Limpos e na Rems as pessoas não se reuniam “apenas para jogar pedras nos megaeventos, mas para tentar construir algo com as oportunidades abertas por eles”.

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